domingo, 31 de maio de 2009

Uma longa estrada cheia de mistérios

Eu me gabava de ser um leitor rápido. Li os livros do Harry Potter 1, 2 e 3 em um dia cada um. E o quarto eu li em dois. Não sei como eu conseguia, mas eu lia e lia bem. Às vezes descobria, quando comentava a história com outros, que tinha lido os nomes das personagens errado, mas e daí? Eu lia pra mim mesmo! O que importava era o que eu achava.

Tá bom, eu admito: Isso era um exagero. Não precisava ler tão rápido assim. Aos poucos, comecei a diminuir o ritmo, mas ainda continuava numa velocidade acima do normal. Levava uma semana para ler os livros. O que estava, diga-se de passagem, muito bem (havia exceções, claro, como os livros obrigatórios da escola, nos quais eu demorava séculos. Quem não demorava?).

Agora algo está acontecendo, e não sei o que é. Talvez seja que estou lendo livros mais adultos e menos empolgantes, mas o caso é que estou demorando duas semanas cada um. Isso sem mencionar dois nos quais demorei MESES (“Oliver Twist” e “A cabana do pai Tomás”, o qual ainda estou lendo). Acho que é falta de tempo: quando sento pra ler, até leio rápido, mas por pouco tempo. Ou pode ser falta de interesse. O livro não precisa ser chato, mas a não ser que seja extremamente empolgante, começo a ficar cansado. Ler dois capítulos robustos já me deixa cansado.

Ou talvez seja que, convenhamos, não leio um livro empolgante em um bom tempo. Sabe, daqueles em que o capítulo acaba com a personagem caindo do penhasco enquanto os antes-extintos-agora-revividos morcegos assassinos da ilha da Tasmânia voam furiosamente atrás dela (o que dá lugar a dois eventos empolgantes: Ou a personagem cai e morre – surpreendendo-nos e tirando lágrimas dos nossos olhos – ou ela é pega pelos morcegos e levada para seu ninho – onde sofrerá coisas inimagináveis). Pior, pode ser que a idade de coisas extremamente empolgantes simplesmente tenha passado. Num mundo onde todos os livros, filmes, seriados de TV e quadrinhos não nos deixam respirar com revelações bombásticas, é difícil se empolgar... O coração se torna forte e insensível. Sério. Meu seriado favorito, Fringe, o qual assisto fielmente, acabou outro dia. E o final, que deveria me deixar de cabelos em pé, chorando pela próxima temporada, só me deixou satisfeito (uma sensação tão fria e formal, do tipo que não deveria ser provocada por coisas empolgantes).

Porque é isso mesmo, a empolgação, o mistério, que me faziam ler rápido. E sinto muito ter perdido a habilidade de me empolgar. Como escritor, sonho que meus leitores sintam essa emoção no meu livro, e tenho receios de não poder provocá-la se eu mesmo não a sentir. Mas é aqui que vem o pulo do gato. A grande revelação. O clímax. Está preparado?

Com a perda da sensibilidade, ganhei um profundo entendimento de como provocar os sentimentos que não posso sentir. Sério. Virou uma espécie de matemática: Posso ver exatamente quais ingredientes são necessários, que conexões devem ser feitas, o que as personagens devem fazer. Pode até ser que isto não esteja claro para mim desde o começo, mas no desenrolar, o vejo claro na minha frente. Tanto assim que uma das razões do final de Fringe não ter me empolgado tanto é eu tê-lo adivinhado antes de acontecer (o mesmo aconteceu com o final da quinta temporada de Lost). Não estou brincando. Eu sabia o que ia acontecer (ou, na verdade, o que já tinha acontecido e iria ser revelado ao espectador).

Me sinto como um escritor de livros de criança que já não é mais criança. Ou como um de livros de romance que já casou cinco vezes e não sente mais amor. Estes dois casos, no entanto, assemelham-se ao meu também no fato de que, mesmo assim, posso sentir, como escritor, um prazer em contar essas histórias, porque sei o que vão provocar nos outros. É como dar um presente: Eu adoro, mesmo que não seja para mim, porque imagino como a outra pessoa vai se sentir supressa e feliz.

Enfim, estou demorando mais para ler sim. Eu não sinto mais empolgação. Mas, como dizem, o importante não é só chegar lá, é a viagem. E a viagem me ensinou um baita segredo, que vai me servir bastante para o resto da vida. Não só isso, como descobri que há livros que são feitos para ler-se devagar. Posso dizer que estou saboreando a viagem completamente.

domingo, 17 de maio de 2009

Hasta la vista, baby

Acabo de lembrar de um comercial que passava no Canal 9 da Argentina (assim se chamava o canal Telefé na minha cidade) que anunciava a estréia do filme "O Exterminador do Futuro" na programação. Começava com um locutor falando "Arnold Schwarzenegger está de mau humor. De muito mau humor", enquanto se mostravam imagens do dito-cujo destruíndo algumas coisas como máquina destruidora vinda do futuro para matar Sarah Connor (ok, provávelmente essa última parte foi desnecessária; minha intenção não é discorrer sobre Terminator, mas é que o seriado "The Sarah Connor Chronicles" acabou de ser cancelado eu gostava muito dele).

Últimamente, eu tenho andado como Arnold Schwarzenegger. Com tantas coisas para fazer e tão pouco tempo, meu mau humor atinge picos incríveis para depois cair, no momento da bonanza. É injusto, mas eu sinceramente perco a paciência muito rápido nas horas de estresse, e muitos saem lesados com isso. O problema é, depois, convencé-los de que foi sem querer e que "agora estou bem, vamos (fazer alguma coisa)". O que me irrita, então, é estar rodeado de tantas pessoas que não merecem meu mau-humor e a irritante falta de gente que merece. Ou de oportunidades para enfrentá-las.

Um caso específico? A operadora de celulares Claro. Minha irmã tem uma conta lá, e descobriu que, comparado como o meu, o plano dela é uma porcaria. Eu a instiguei a lutar pelos seus direitos de consumidora, mas ela é mais acomodada e prefere deixar tudo como está. Aí eu me sinto injustiçado: Tudo bem, eu sou o que tem o plano BOM, mas por que não posso ter uma chance de gritar e ser rude com alguém que mereça? Hein? Se fosse eu, a Claro já estava me dando descontos de 100%. Mas não sou eu. Todos na minha vida concordam comigo (a exeção da minha academia, que me pediu um atestado médico até o dia 25 sendo que estou perfeitamente bem. Quando descobri que não era para todos que eles tinham pedido, era tarde demais, porque eu já tinha marcado o médico. Mas ai deles se o médico me pedir algum teste e o atestado demorar para mais do que o dia 25. Tô quase torcendo para que isso aconteça).

Enfim, duas lições de moral para você:

1 - Não me irrite. Mesmo. Meu cérebro mudará para o modo "saco de pancadas" e nossa relação sofrerá um sério trauma, em mais sentido do que um.

2 - Traga alguém culpável perante mim. Eu imploro.

domingo, 3 de maio de 2009

Despedida

"Tijolão!". "Isso? Nem pobre rouba!". "É o primeiro inventado, né?". Esses eram alguns dos comentários que eu ouvia cada vez que tirava meu celular até uns dias atrás. Um bom e velho Nokia 3320, que na época que eu ganhei já estava meio ultrapassado.

Ele foi meu primeiro e, até dois dias atrás, meu único. E a emoção que eu senti quando ganhei? Era usado? Era. Tava velho? Tava. Mas eu não deixava de me sentir no topo do mundo. EU TINHA CELULAR! Claro, era com créditos, então olha lá. Nada de ficar ligando muito tempo ou exagerando nas mensagens.

Depois veio a evolução. E eu não evoluí. Enquanto todos tiravam fotos e enviavam para os outros, eu dizia "eu não uso muito, sabe, então não compensa trocar". E não usava mesmo. Cheguei a deixar seis meses sem crédito. Mas para que serve 9090 senão para nós caloteiros?

Quase virou ódio. EU já não o aguentava, queria outro. Mas sempre acabava ficando com ele na hora H. Nenhum me satisfazia. Para que mudar? O gordinho era meu amigo. Com ele eu me sentia seguro. Quem iria querer me roubar? E, mesmo sendo fiel, ele não queria compromisso: Era pré-pago. Sabe aquelas mensagens: "Sua linha será cancelada em dois dias devido à falta de uso"? Ignore. Daqui a dois dias eles enviam outra te implorando pra usar. Eu chegeui a ganhar o dobro do que carreguei uma vez. O truque é esperar a hora certa. E assim foi indo. Nos tornamos verdadeiros companheiros. Que se danasse o que os outros diziam.

Mas um dia, quando eu começava a a carregar crédito mesmo, e usar com freqüencia (pois é, a faculdade muda as pessoas), o tempo reclamou. Já passava da hora. E meu celular começou a falhar: A bateria acabava, a tela apagava, as palavras se invertiam (muito esquisito).

Já tenho outro. Moderno, estiloso. E meu gordinho está aí, cada dia pior. Ele já não funciona, só uso pela agenda, que ainda estou copiando. Sua luzinha verde se estingue cada vez mais. E, relembrando tudo o que passamos, só posso dizer: Adeus, gordinho. Se alguém sabe o que é amizade, é você.