domingo, 4 de outubro de 2009

Total overdose!

Recentemente tenho freqüentado, por uma casualidade do destino, um bom número de boates. Eu era um pouco alheio a esse tipo de ambiente, nunca tinha de fato entrado em uma. Portanto, o que eu imaginava e a verdade de fato acabaram se desencontrando. Eis algumas reflexões.

Ao contrário do que filmes ou fotos possam fazer crer, uma boate deixará suas roupas com um fedor de cigarro e álcool que te enjoará por uns bons dias depois. Ao vivo, a experiência da boate é mais visual (ou tátil) do que olfativa, mas na manhã seguinte você se perguntará como o cheiro não te incomodava. Enfim.

A maioria das boates não tem uma boa noção de que tipo de música colocar. Se você acha que vai escutar seus hits favoritos do rádio ou aquelas músicas que você sempre pensou que “seriam ótimas numa boate”, pode esquecer. Isso só acontecerá por cinco segundos, no intervalo entre uma banda de samba e outra de pagode que simplesmente não vão embora, mesmo que tudo mundo queira dançar. É isso ou um DJ que obviamente tem o desejo reprimido de tocar numa rave e a boate foi o máximo que conseguiu.

Você vai ficar bêbado. Sim, e muito. Por que se você não ficar, vai morrer de tédio, odiar o lugar e se perguntar porque achou alguma vez que era uma boa idéia ir. Claro que se beber, na manhã seguinte, com uma ressaca daquelas, você se perguntará o que tinha de tão boa a boate, e se não compensaria ter ficado em casa. Em resumo, a diferença entre se embebedar ou não é que se você escolher a primeira pelo menos vai se divertir enquanto está lá.

Nunca vai para uma boate com alguém a quem você quer causar uma boa impressão, pois não só não tem jeito nenhum de fazer isso, você fará tudo o oposto. A boate (e nisto eu quero dizer o ambiente escuro, os vapores inebriantes, a música alta e o álcool nas veias) muda o ser humano de uma maneira tão profunda que é possível dizer que ele não é mais ele mesmo. Partes suas até então desconhecidas aflorarão com força, como seu lado dançarino, seu lado prostituta ou seu lado psicólogo. Elas sumirão junto com a ressaca, não se preocupe.

Enfim, vou encerrar o texto de hoje um pouco antes que os outros, mas me entenda. Estive em duas boates só nesse fim de semana.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Vida longa e próspera!

Todas as colunas, eventualmente, tem um texto que puxa o saco de alguém. Com a minha não poderia ser diferente. E quem, pergunta-se você, será o beneficiado? Ninguém outro que J. J. Abrams.

Não vou assumir que você já ouviu falar. Muito provavelmente sim, especialmente considerando o tipo de leitor que tenho em mente, mas pode ser que não. Mas suponho que você já tenha ouvido falar de Lost. Lost, sendo o seriado tremendamente famoso que é, é uma das obras mais famosas de Abrams. O que é meio injusto, porque ele é meio desligado da série, e ultimamente nem tem muita participação. Vou, portanto, focar nas duas realizações de Abrams que considero mais importantes: O seriado Fringe e o remake de Star Trek.

Fringe, como já disse algumas vezes neste blog, é um dos melhores seriados que existem. No seu gênero, ficção científica, é o melhor que já vi. Comparado de inicio com o Arquivo X, a série segue a agente do FBI Olivia Dunham, o cientista Walter Bishop e seu filho Peter enquanto estes investigam uma série de casos bizarros (parte do que se chama o “Padrão”) e explicáveis somente pela “ciência de borda” (fringe science). Desde teletransporte a telepatia, nada escapa ao trio, que vai revelando que suas próprias vidas são tão interessantes e suspeitas como os casos que investigam.

Tenho que admitir que, em parte, meu amor pelo seriado se deve à atriz Anna Torv, que interpreta Olivia. Ela é simplesmente perfeita para o papel. Seus colegas não ficam atrás, mas ela é maravilhosa. Dito isso, a série é de fato muito boa, e, da mesma maneira que Lost, nos engaja com seus mistérios e nos enternece com seus momentos de romance e intriga. A cenografia é muito boa, a produção é caprichada e a redação, na maior parte, inteligente. Estou apaixonado.

Como se não fosse suficiente, Abrams ainda produziu e dirigiu o mais novo filme de Star Trek, acompanhado, inclusive, dos mesmos escritores de Fringe. O filme pode parecer confuso a princípio, como qualquer obra de Abrams, mas ao pouco tudo vai sendo compreendido, numa aventura estonteante que não pára um segundo. Os atores foram bem escolhidos (aliás, só para ver o Sylar de Heroes com as sobrancelhas de Spock eu já assistiria ao filme) e os cenários são realistas (o mais realistas que poderiam ser considerando-se que é Star Trek). O melhor é que as duas horas passam em uns minutos, já que o script mistura piadas e diálogos emotivos com uma freqüência calculada, nunca nos fazendo sentir que nada está acontecendo. Fazia tempo que não via um filme tão simples e bom ao mesmo tempo, e não consigo esperar pelas seqüências (há mais duas no forno, com os mesmos autores).

Enfim, o que posso dizer? Acho que de agora em mais, tudo o que tiver o nome J. J. Abrams na capa vai ter minha fidelidade. Eu sei, eventualmente eu vou ver alguma coisa péssima, mas assim como pude perdoar o mais novo e desastroso vídeo musical da minha musa, Shakira (um vídeo, aliás, de uma música muito boa), eu vou conseguir perdoar os erros de Abrams. A não ser que Fringe fique ruim. Em cujo caso... não quero nem pensar.

domingo, 20 de setembro de 2009

Diga-me quando te casas e te direi de que ano és

Tenho pensando muito, ultimamente, nas relações amorosas dos tempos de hoje. A princípio, a união de um homem e uma mulher é uma coisa bem simples: Devido a certas características, dois seres de sexos opostos se atraem, copulam e criam novos seres. Hoje em dia...

As tais “características” que estimulam a atração mudaram bastante durante a história. Geralmente físicas ou emocionais, elas sempre estiveram atreladas ao contexto social (antes, ser magro era ruim, pois queria dizer que o sujeito não tinha comida em casa, ou que era doente). Hoje em dia, os arquétipos formados de homem e mulher ideais são, a grosso modo: Rico, musculoso e inteligente (nessa ordem); “gostosa” (ou seja, favorecida em algumas áreas e deficiente em outras), inteligente e bem-sucedida (esta última é debatível para aqueles com menos auto-confiança). Mas enfim, continuamos escolhendo aqueles que nos atraem, seja pela razão que for. Nessa área, até que não mudamos tanto.

Já quanto ao copular... a distância entre a atração e a copulação depende do casal. Para muitos, são menos do que algumas horas. Existe, é claro, uma relação diretamente proporcional entre o nível de álcool na corrente sanguínea dos copulantes e o tempo que lhe levou para ir ao ato. Ou pode ser simples safadeza, também. Já para outros, há um eternidade (senão temporal, mental) entre se conhecer socialmente e biblicamente. Segue um exemplo.

Mulher X encontra Homem Y. Eles conversam e se sentem atraídos. Mulher X deixa seu telefone com Homem Y. Ele não liga por três dias. Mulher X se desespera. Quando já começa a olhar para outros homens, Homem Y liga. Ao parecer, seu celular tinha sido levado pela polícia, que o confundira com evidência de um crime com o qual Homem Y não tinha nada a ver. Os dois marcam um encontro. Os dois vão ao encontro. Continuam a se gostar. Homem Y leva Mulher X à porta de casa. Os dois se beijam, mas ela entra rápido, porque não está pronta. Mulher X adiciona Homem Y no Orkut. Ela descobre com horror que a página está cheia de recados de outras mulheres. Sabe que ainda não pode tirar satisfação, então engole seu ciúme. Sente até um espírito de competição. Essas vadias que se cuidem. Homem Y liga em poucos dias. Mulher X se congratula interiormente por ter entrado rápido em casa na noite do encontro. Os dois marcam mais um encontro. Mulher X menciona em tom casual o tanto de recados de mulheres no Orkut. Ele responde em tom casual que elas não tem importância. Mulher X se sente orgulhosa. Homem Y leva ela em casa. Os dois dormem juntos.

Aqui chegamos a um ponto crucial da história, que leva à terceira fase do relacionamento homem-mulher. Pode acontecer que, após a fatídica noite, Homem Y não ligue nunca mais e, olha só quem diria, as vadias do Orkut eram importantes sim. Mulher X chora, se arrepende, se sente uma idiota, come sem controle, se embebeda com as amigas e continua sua vida normalmente. No entanto, existe uma outra possibilidade.

Homem Y continua a ligar e os dois continuam a sair. Mulher X começa a passar muito tempo na casa de Homem Y. Os dois decidem se mudar juntos. Homem Y é promovido. Mulher Y escreve um livro de sucesso. Os dois se casam. Porque ela viaja muito, eles decidem esperar para ter filhos. Mulher X passa cada vez mais tempo fora de casa. Homem Y contrata uma nova secretária estonteante. Mulher X odeia. Os dois brigam. Os dois ficam de boa. Nessa noite, Mulher X esquece da pílula. Nasce criança A.

Chegamos aqui ao final de nossa história. Se você sentiu cansaço só de ler, imagina viver. Se por um lado ganhamos autonomia, por outro, quanto temos que trabalhar! E pensar que houve uma época em que nossos pais, um dia, junto com as ordens de “não ande descalço pela casa” e “chega de brincar na lama”, nos avisavam com quem íamos casar. Simples assim.

domingo, 13 de setembro de 2009

Crônica de uma literatura anunciada

Meu mundo de leitura está passando por um momento difícil. Antes, eu lia muito. Muito. Às vezes chegava a ser exagerado, como quando li Harry Potter e o Cálice de Fogo em um dia. Não precisava. Mas agora sinto que estou ficando lento. Demorei quase três meses para ler O Colar da Rainha. Tudo bem que ele tinha três volumes e estava em francês (o que me forçava a ler mais lento ou reler algumas partes várias vezes), mas é um livro de Dumas, pelo amor de Deus! Quando recentemente compre a versão integral, em espanhol, dos Três Mosqueteiros, acho que não demorei mais de uma semana. Já comentei isto em outro post, Uma longa estrada cheia de mistérios, no qual atribuí minha lentidão à falta de interesse com as histórias, mas a verdade é que não é só isso.

Depois do Colar, peguei o primeiro livro de uma trilogia muito famosa no mundo anglo-parlante, Fundação, de Isaac Asimov (publicada no Brasil recentemente numa edição muito bonita). Tive a sorte de achar ele em inglês na biblioteca da Faculdade de Letras, e li em menos de uma semana. Nenhum motivo de orgulho, porque o livro é muito pequeno mesmo. E, ao contrário do Colar, que tinha altos e baixos, esse aqui era muito empolgante. Mesmo dividido em cinco histórias diferentes. Foi uma leitura prazerosa e curta, mas não posso atribuir minha rapidez somente a isso: Houve um feriado de por meio. Ou seja, eu tive tempo. Agora, lendo a continuação (Fundação e Império), a história é diferente: Com vários outros textos para ler da faculdade, mais tarefas do meu trabalho e uma prova na semana que vem, o coitado do livro, que é até menor que o primeiro, está sendo lido a passo de tartaruga. E se um livro estimulante encoraja uma leitura rápida, o contrário também é verdade: Demorar para ler um livro pode tirar seu atrativo. Estou gostando da história, claro, mas com a demora para ler, e as pausas entre um bloco de leitura e outro, me perco e não desfruto tanto. Estou fazendo questão, pelo menos, de ler um capítulo cada vez, o que diminui o efeito. Afinal de contas, o livro era publicado em revista. Os leitores esperavam um mês entre um capítulo e outro.

Mas não é só a falta de tempo para ler que me perturba, senão a quantidade de livros que quero ler também. Percebi que faz muito tempo que não leio em espanhol, portanto procurei um clássico para ler depois de terminar a trilogia da Fundação. Pensei imediatamente em Cem Anos de Solidão, que já tentei ler uma vez e parei. No entanto, lembrei que antes dele ainda tenho que ler um que ganhei de um amigo, Amor em Minúscula. Isso sem falar que a GQ deste mês ainda nem acabei, e não falta muito para que ela e sua irmã WIRED do mês que vem cheguem (as duas requerem tempo; afinal de contas, são revistas americanas. Ou seja, gordas). E ainda por cima me deu uma vontade estranha de ler Grande Sertão: Veredas. Pois é. Como vou fazer isso junto com todo o resto de meus deveres e leituras obrigatórias, não sei. E tenho que fazer rápido, porque quero ler algo em francês de novo para não perder o costume. Pois é, Corcunda de Notre Dame, me aguarde. Ainda chego a você.

E, no meio disso tudo, meu próprio livro continua ali, estagnado. Havendo terminado de revisar a primeira parte e tendo dividido a segunda em mais de seis dezenas de cartões (cada um descreve uma cena do livro), simplesmente parei. Deveria, agora, sentar com os cartões, arranjá-los, jogar fora uns, adicionar outros, até conseguir exatamente o que quero e reescrever isso mesmo. O que me desanima, claro, e que parece que não tenho tempo. Mas, como disse um autor que escreve sobre escrever livros, fazer uma coisa quando você tem outras mil não é tanto. É só mais uma. Agora, se escrever fosse o único que eu tivesse para fazer, tenho certeza de que não faria. Porque se há algo que os escritores não gostamos de fazer, é escrever.

Ai, literatura. Não posso viver com você, não posso viver sem você. Ou melhor: Ai, tempo. Quem foi o sem-noção que pensou que trabalhar cinco dias e descansar dois era uma boa idéia?