domingo, 13 de setembro de 2009

Crônica de uma literatura anunciada

Meu mundo de leitura está passando por um momento difícil. Antes, eu lia muito. Muito. Às vezes chegava a ser exagerado, como quando li Harry Potter e o Cálice de Fogo em um dia. Não precisava. Mas agora sinto que estou ficando lento. Demorei quase três meses para ler O Colar da Rainha. Tudo bem que ele tinha três volumes e estava em francês (o que me forçava a ler mais lento ou reler algumas partes várias vezes), mas é um livro de Dumas, pelo amor de Deus! Quando recentemente compre a versão integral, em espanhol, dos Três Mosqueteiros, acho que não demorei mais de uma semana. Já comentei isto em outro post, Uma longa estrada cheia de mistérios, no qual atribuí minha lentidão à falta de interesse com as histórias, mas a verdade é que não é só isso.

Depois do Colar, peguei o primeiro livro de uma trilogia muito famosa no mundo anglo-parlante, Fundação, de Isaac Asimov (publicada no Brasil recentemente numa edição muito bonita). Tive a sorte de achar ele em inglês na biblioteca da Faculdade de Letras, e li em menos de uma semana. Nenhum motivo de orgulho, porque o livro é muito pequeno mesmo. E, ao contrário do Colar, que tinha altos e baixos, esse aqui era muito empolgante. Mesmo dividido em cinco histórias diferentes. Foi uma leitura prazerosa e curta, mas não posso atribuir minha rapidez somente a isso: Houve um feriado de por meio. Ou seja, eu tive tempo. Agora, lendo a continuação (Fundação e Império), a história é diferente: Com vários outros textos para ler da faculdade, mais tarefas do meu trabalho e uma prova na semana que vem, o coitado do livro, que é até menor que o primeiro, está sendo lido a passo de tartaruga. E se um livro estimulante encoraja uma leitura rápida, o contrário também é verdade: Demorar para ler um livro pode tirar seu atrativo. Estou gostando da história, claro, mas com a demora para ler, e as pausas entre um bloco de leitura e outro, me perco e não desfruto tanto. Estou fazendo questão, pelo menos, de ler um capítulo cada vez, o que diminui o efeito. Afinal de contas, o livro era publicado em revista. Os leitores esperavam um mês entre um capítulo e outro.

Mas não é só a falta de tempo para ler que me perturba, senão a quantidade de livros que quero ler também. Percebi que faz muito tempo que não leio em espanhol, portanto procurei um clássico para ler depois de terminar a trilogia da Fundação. Pensei imediatamente em Cem Anos de Solidão, que já tentei ler uma vez e parei. No entanto, lembrei que antes dele ainda tenho que ler um que ganhei de um amigo, Amor em Minúscula. Isso sem falar que a GQ deste mês ainda nem acabei, e não falta muito para que ela e sua irmã WIRED do mês que vem cheguem (as duas requerem tempo; afinal de contas, são revistas americanas. Ou seja, gordas). E ainda por cima me deu uma vontade estranha de ler Grande Sertão: Veredas. Pois é. Como vou fazer isso junto com todo o resto de meus deveres e leituras obrigatórias, não sei. E tenho que fazer rápido, porque quero ler algo em francês de novo para não perder o costume. Pois é, Corcunda de Notre Dame, me aguarde. Ainda chego a você.

E, no meio disso tudo, meu próprio livro continua ali, estagnado. Havendo terminado de revisar a primeira parte e tendo dividido a segunda em mais de seis dezenas de cartões (cada um descreve uma cena do livro), simplesmente parei. Deveria, agora, sentar com os cartões, arranjá-los, jogar fora uns, adicionar outros, até conseguir exatamente o que quero e reescrever isso mesmo. O que me desanima, claro, e que parece que não tenho tempo. Mas, como disse um autor que escreve sobre escrever livros, fazer uma coisa quando você tem outras mil não é tanto. É só mais uma. Agora, se escrever fosse o único que eu tivesse para fazer, tenho certeza de que não faria. Porque se há algo que os escritores não gostamos de fazer, é escrever.

Ai, literatura. Não posso viver com você, não posso viver sem você. Ou melhor: Ai, tempo. Quem foi o sem-noção que pensou que trabalhar cinco dias e descansar dois era uma boa idéia?

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