domingo, 6 de setembro de 2009

Une nuit pour rappeler

Abriu um supermercado novo aqui perto de casa. Minha relação com ele começou no pé esquerdo: Para ser construído, ele havia fechado várias lojas que ocupavam seu lugar; dentre elas, uma favorita minha que vendia queijos e carnes importados e, mais que isso, deliciosos. Se havia alguma falha neste deleite culinário era um preço salgado demais. Mas enfim, a loja se foi e este supermercado veio.

Não tudo estava perdido, porém. Minha mãe me anunciou que o dito-cujo também vendia queijos, e que pareciam ser bons. Portanto me empolguei (também tem a ver com o fato de estar em casa neste feriado prolongado e sentir que não estava fazendo nada) e convidei meu pai para comprar todos os ingredientes de um jantar perfeito. Ele aceitou e lá fomos os dois.

Talvez seja claro para mim e não para o leitor, portanto vou esclarecer: O jantar perfeito não precisa de mais do que uns três tipos de queijo, dois de presunto cru, dois de pão (de preferência um com cereais e outro sem) e uma boa garrafa de vinho tinto. O novo supermercado prometia ter todos.

Começamos com os queijos, e pareceu que a empreitada ia fracassar: A maioria era nacional. Não se pode ter um grand jantar com queijos nacionais. Mas, caçando par aí, conseguimos encontrar um Gouda e um Old Dutch da Holanda. Mais aliviados, procedemos ao presunto. Sem pensar muito, pegamos duas bandejas de italiano. O presunto não é tão difícil quanto o queijo. Ele tem muitas mais chances de ser bom.

Passamos aos pães. Instantaneamente levamos um estilo ciabatta (que tem uma crosta dura e o interior ao mesmo tempo macio e pegajoso – uma delícia). Eu queria algum integral, mas não achei. Tive que me conformar com um italiano coberto de gergelim. Pegamos duas bandejas de financiers (uma espécie de massinha doce feita com farinha de caju à qual já sou adito, especialmente quando tem casca de laranja) para a sobremesa. Só faltava o vinho.

A adega do supermercado não foi bem planejada: Muito estreita e mal iluminada. Isso sem contar que cada país tinha meia parede para seus produtos. Se os franceses e os italianos soubessem que dividiam uma das menores! Mas, sem dar muita importância à parte européia da coisa, meu pai e eu nos dirigimos à secção argentina, uma das maiores. E não digo isso com orgulho: A maior parte dos vinhos que estavam ali seriam melhor usados se fossem colocados fora do banheiro para que o usuário se prevenisse da gripe suína. Meu pai e eu olhávamos com horror as estantes, que continham calúnias como vinhos brancos com tapa de enroscar, ao estilo refrigerante, ou um tinto que se chamava Pasión por el tango. Só para que fique claro, o vinho e o tango habitam regiões diferentes e opostas da Argentina. Um vinho que se chama “Paixão pelo tango” é o mesmo que, para dar um exemplo que explique meu horror, um cantor de funk nascido em Santa Catarina (se isso existe, por favor, não me contem). Enfim, escolhemos o melhor que achamos (o que não quer dizer que era um vinho decididamente bom, só o que tinha menos chances de ser ruim).

Quando chegamos em casa, dispomos tudo de maneira pitoresca e nos sentamos para acompanhá-lo com um filme, Hors de Prix, escolhido justamente porque é francês, o que acompanhava a suntuosidade culinária da noite (e porque, como estou estudando francês, não perco oportunidade de treinar minha compreensão). A noite foi bastante boa. Os queijos e o vinho deixaram um pouco a desejar, só um pouco (mais o vinho que os queijos). O presunto, os pães e o filme me satisfizeram completamente. Mas, em espírito de francês, que nunca elogia nada, vou dizer somente que je suis content.

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