domingo, 20 de setembro de 2009

Diga-me quando te casas e te direi de que ano és

Tenho pensando muito, ultimamente, nas relações amorosas dos tempos de hoje. A princípio, a união de um homem e uma mulher é uma coisa bem simples: Devido a certas características, dois seres de sexos opostos se atraem, copulam e criam novos seres. Hoje em dia...

As tais “características” que estimulam a atração mudaram bastante durante a história. Geralmente físicas ou emocionais, elas sempre estiveram atreladas ao contexto social (antes, ser magro era ruim, pois queria dizer que o sujeito não tinha comida em casa, ou que era doente). Hoje em dia, os arquétipos formados de homem e mulher ideais são, a grosso modo: Rico, musculoso e inteligente (nessa ordem); “gostosa” (ou seja, favorecida em algumas áreas e deficiente em outras), inteligente e bem-sucedida (esta última é debatível para aqueles com menos auto-confiança). Mas enfim, continuamos escolhendo aqueles que nos atraem, seja pela razão que for. Nessa área, até que não mudamos tanto.

Já quanto ao copular... a distância entre a atração e a copulação depende do casal. Para muitos, são menos do que algumas horas. Existe, é claro, uma relação diretamente proporcional entre o nível de álcool na corrente sanguínea dos copulantes e o tempo que lhe levou para ir ao ato. Ou pode ser simples safadeza, também. Já para outros, há um eternidade (senão temporal, mental) entre se conhecer socialmente e biblicamente. Segue um exemplo.

Mulher X encontra Homem Y. Eles conversam e se sentem atraídos. Mulher X deixa seu telefone com Homem Y. Ele não liga por três dias. Mulher X se desespera. Quando já começa a olhar para outros homens, Homem Y liga. Ao parecer, seu celular tinha sido levado pela polícia, que o confundira com evidência de um crime com o qual Homem Y não tinha nada a ver. Os dois marcam um encontro. Os dois vão ao encontro. Continuam a se gostar. Homem Y leva Mulher X à porta de casa. Os dois se beijam, mas ela entra rápido, porque não está pronta. Mulher X adiciona Homem Y no Orkut. Ela descobre com horror que a página está cheia de recados de outras mulheres. Sabe que ainda não pode tirar satisfação, então engole seu ciúme. Sente até um espírito de competição. Essas vadias que se cuidem. Homem Y liga em poucos dias. Mulher X se congratula interiormente por ter entrado rápido em casa na noite do encontro. Os dois marcam mais um encontro. Mulher X menciona em tom casual o tanto de recados de mulheres no Orkut. Ele responde em tom casual que elas não tem importância. Mulher X se sente orgulhosa. Homem Y leva ela em casa. Os dois dormem juntos.

Aqui chegamos a um ponto crucial da história, que leva à terceira fase do relacionamento homem-mulher. Pode acontecer que, após a fatídica noite, Homem Y não ligue nunca mais e, olha só quem diria, as vadias do Orkut eram importantes sim. Mulher X chora, se arrepende, se sente uma idiota, come sem controle, se embebeda com as amigas e continua sua vida normalmente. No entanto, existe uma outra possibilidade.

Homem Y continua a ligar e os dois continuam a sair. Mulher X começa a passar muito tempo na casa de Homem Y. Os dois decidem se mudar juntos. Homem Y é promovido. Mulher Y escreve um livro de sucesso. Os dois se casam. Porque ela viaja muito, eles decidem esperar para ter filhos. Mulher X passa cada vez mais tempo fora de casa. Homem Y contrata uma nova secretária estonteante. Mulher X odeia. Os dois brigam. Os dois ficam de boa. Nessa noite, Mulher X esquece da pílula. Nasce criança A.

Chegamos aqui ao final de nossa história. Se você sentiu cansaço só de ler, imagina viver. Se por um lado ganhamos autonomia, por outro, quanto temos que trabalhar! E pensar que houve uma época em que nossos pais, um dia, junto com as ordens de “não ande descalço pela casa” e “chega de brincar na lama”, nos avisavam com quem íamos casar. Simples assim.

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