domingo, 12 de julho de 2009

O insuportável mundo real

Hoje assisti ao filme Watchmen. Gostei bastante. Por duas razões. Uma, por que é um bom filme. Técnica e artisticamente falando, é um filme lindo de se ver, bem feito, com ares de 300 (ou seja, um surrealismo que faz o filme ser mais bonito que a vida real). Segundo, porque possui uma história bem contada. Ele tem mais de duas horas, mas cada minuto vale a pena, e tenho certeza de que ver uma segunda vez é uma ótima idéia. O filme consegue contar tudo desde o começo ao fim mostrando cenas chave que, se bem no começo eram confusas, no final fazem muito sentido (principalmente uma introdução com créditos que é fantástica).

O que não gostei do filme, no entanto, é que foi mais um exemplo do estereótipo no que as coisas “adultas” caíram hoje em dia: Uma ótima história com cenas de sexo e violência que não tem nada a ver.

Na minha opinião, um produto de entretenimento que se auto-classifica adulto (quando, claro, seu objetivo é entreter) terá uma história complicada e profunda, do tipo que crianças não conseguiriam entender ou pela qual não se veriam interessadas. É o caso, por exemplo, de Watchmen. Ou de 100 Balas, um ótimo comic que recomendo a todos. Não só possuem histórias que prendem, senão também fazem pensar em questões filosóficas e morais. De um jeito bom, claro, não entediante.

Só que parece que os escritores não conseguem fazer um título adulto sem torná-lo impróprio. Todas as cenas de violência em Watchmen (que eram chocantes para qualquer um) eram completamente dispensáveis e poderiam ter sido mostradas de outro jeito. Por exemplo, tínhamos que ver uma machado sendo baixado sobre a cabeça de um assasino várias vezes. O ponto era mostrar como a personagem tinha mudado. Para isso, não bastava saber que o criminoso tinha sido morto? As cenas de sexo, também, não se relacionavam muito bem com o restante do filme. Que duas personagens façam sexo não quer dizer que nós temos que ver isso. Como acontece em outro comic que estou lendo, Scalped (não publicado no Brasil), onde o sexo aparece explicitamente sem razão aparente. Não só explícito, senão cru. E de violência nem se fala.

Por que estou reclamando de isto tudo? Por que percebi, enquanto assistia a um prisioneiro de Watchmen ter seus braços decepados com uma serra, que estou me tornando insensível. De tanta violência, tanto sexo e tantos palavrões na fala (sério, as personagens de Scalped não conseguem dizer algo sem adicionar “fuck”), estou me tornando insensível a isso. E quando acontece na vida real, como o Super Notícias mostra todo dia, não sinto muito espanto. É normal, penso.

Mas é mesmo? Será que na “vida real” (porque é, supostamente, aí que os produtos adultos querem se separam dos outros: eles supostamente mostram a vida como ela é) todos somos uns insensíveis cruéis que não dão nada para o mundo, e que não sentem o menor remorso em matar alguém, estuprá-lo, fazer coisas horríveis com sua família e depois nos embebedamos até dormir? Será que o mundo não tem nada de bom?

Não quero acreditar que sou eu que está ficando ingênuo. Sei que o mundo não é um mar de rosas, e que existe um mar de pessoas cuja vida não vale um centavo. Mas será que é demais pedir um entretenimento que exalte o que há de melhor em nós, em vez de dizer “que se foda o mundo, que diferença faz”? Que nos mostre por que vale a pena ser como somos e não muito piores? Que nos mostre que há coisas que estão errado, e que aqueles que o fazem serão eventualmente castigados? Porque, sinceramente, depois de ler ou assistir a um produto adulto, não dá vontade de acordar de manhã. Ou de fazer absolutamente nada.
Enfim, meu ponto é o seguinte: A todos aqueles que produzem entretenimento adulto, por favor, chega desse mundo. Adulto deve significar complexo, intrigante, profundo e talvez um pouco mais cru que os outros. Só isso. Violência cada duas cenas ou sexo a cada três páginas não torna um produto adulto. O torna sofrível.

Um comentário:

O Frango... ® disse...

Ainda não assisti Watchmen, mas essa coisa de deixar o filme "adulto" é realmente idiota.

Mas mesmo com essa suerexposição dos problemas, eu não consigo achar eles normais. Pode estar banalizado, mas nem por isso vou conseguir consider eles normais...